terça-feira, 5 de dezembro de 2017

LITERATURA E POLÍTICA

“... não há necessidade alguma de trazer a política para o âmbito da teoria literária: como acontece com o esporte sul-africano, elas estão juntas há muito tempo.”  (Terry Eagleton. *)

É real uma das funções da literatura: provocar o leitor de modo a causar um estranhamento (ou causar um estranhamento de modo a provocar quem lê o texto literário).  Trata-se de um conceito dos formalistas russos.  Ele, o estranhamento, é um efeito que se produz quando o leitor é tirado do lugar-comum ou da zona de conforto e encara o conteúdo do texto literário como se pela primeira vez estivesse entrando em contato com seu teor.
Até onde sei, o fenômeno que postulavam os formalistas exige uma condição: a literaturidade, que é o tratamento especial dispensado à língua, ou seja: o uso especial do idioma. 
O que me espanta é que, embora parte dos formalistas russos estivesse envolvida com o movimento bolchevista, é possível dizer que eles considerariam o stalinismo um "mero" pretexto para a alegoria de A Revolução dos Bichos (romance que é de 1945 e, portanto, posterior à Revolução Russa), como se o momento histórico fosse um fator secundário na produção de um romance ou de um poema.  Mas os fatos históricos não ficam em segundo plano: eles condicionam a literatura, cuja estrutura é moldada pela realidade do autor, e é justamente por isso que precisamos estudar elementos externos ao discurso literário. 
Além disso, para Walter Benjamin (se não me engano), ou para o restante da Escola de Frankfurt (que infelizmente não tem as ideias tão divulgadas quanto as da maldita e maligna Escola de Chicago), o fascismo estetizava a política (como acontece na recente e infame película que faz lavagem cerebral em quase todos), enquanto aos artistas de esquerda cabia a tarefa de politizar a estética.  Quero fazer isso: quero politizar o texto literário, que, quando é político ou politizado, acaba sendo classificado como panfleto, como se isso fosse demérito.  Na verdade, o "panfleto" é tão necessário quanto o estranhamento, o qual, no Estado de exceção causado pelo golpe de Estado em curso, não é apenas real: é também indispensável.
Talvez um dia os “acadêmicos” de Teresópolis e outras cidades “paradisíacas” façam um debate sobre o assunto.  Afinal, os “estudiosos” e os “literatos” das aldeias com certeza valorizam a pesquisa e a fundamentação teórica de teses sobre literatura.

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(*) Teoria da literatura: uma introdução.  Trad. Waltensir Dutra.  São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 294.

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