“... não há necessidade alguma de
trazer a política para o âmbito da teoria literária: como acontece com o
esporte sul-africano, elas estão juntas há muito tempo.” (Terry Eagleton. *)
É real uma das funções
da literatura: provocar o leitor de modo a causar um estranhamento (ou causar
um estranhamento de modo a provocar quem lê o texto literário). Trata-se de um conceito dos formalistas
russos. Ele, o estranhamento, é um
efeito que se produz quando o leitor é tirado do lugar-comum ou da zona de
conforto e encara o conteúdo do texto literário como se pela primeira vez
estivesse entrando em contato com seu teor.
Até onde sei, o
fenômeno que postulavam os formalistas exige uma condição: a literaturidade,
que é o tratamento especial dispensado à língua, ou seja: o uso especial do
idioma.
O que me espanta é que,
embora parte dos formalistas russos estivesse envolvida com o movimento
bolchevista, é possível dizer que eles considerariam o stalinismo um "mero" pretexto para a alegoria de A Revolução dos Bichos (romance que é de 1945 e, portanto, posterior à Revolução Russa), como se o
momento histórico fosse um fator secundário na produção de um romance ou de um
poema. Mas os fatos históricos não ficam
em segundo plano: eles condicionam a literatura, cuja estrutura é moldada pela
realidade do autor, e é justamente por isso que precisamos estudar elementos
externos ao discurso literário.
Além disso, para Walter
Benjamin (se não me engano), ou para o restante da Escola de Frankfurt (que
infelizmente não tem as ideias tão divulgadas quanto as da maldita e maligna
Escola de Chicago), o fascismo estetizava a política (como acontece na recente
e infame película que faz lavagem cerebral em quase todos), enquanto aos
artistas de esquerda cabia a tarefa de politizar a estética. Quero fazer isso: quero politizar o texto
literário, que, quando é político ou politizado, acaba sendo classificado como
panfleto, como se isso fosse demérito.
Na verdade, o "panfleto" é tão necessário quanto o
estranhamento, o qual, no Estado de exceção causado pelo golpe de Estado em
curso, não é apenas real: é também indispensável.
Talvez um dia os “acadêmicos”
de Teresópolis e outras cidades “paradisíacas” façam um debate sobre o
assunto. Afinal, os “estudiosos” e os “literatos”
das aldeias com certeza valorizam a pesquisa e a fundamentação teórica de teses
sobre literatura.
____________
(*) Teoria
da literatura: uma introdução. Trad.
Waltensir Dutra. São Paulo: Martins
Fontes, 2006, p. 294.
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