sábado, 20 de novembro de 2021

O novo ensino médio é mais um sinal da ruína da educação

 

O novo ensino médio é mais um sinal da ruína da educação

 

Márcio Alessandro de Oliveira [1]

                                                    Guarapari, ES. 20 de junho de 2021.

Última revisão: 26 de junho de 2021.

 

            Desde que se consolidou como classe dominante, a burguesia controla a educação, que deixou de ser aristocrática (isto é: destinada aos nobres) para ser “democrática”. (A burguesia é a classe dos seres bípedes que detêm os meios privados de produção, tais como matéria-prima extraída da natureza, maquinário, dinheiro para pagar os salários e rios de dinheiro cheio de juros no mercado financeiro, e não a classe dos donos de birosca que têm direitos econômicos básicos, posto que ter bens de consumo é o mínimo; e obviamente os profissionais liberais também não são burgueses, até porque a direita, que recebe o apoio deles, causa a proletarização e até a subproletarização de uma classe média inculta, tacanha e anti-intelectual.) O neoliberalismo econômico, uma ideologia que prega a redução do Estado e dos direitos sociais e defende a privatização de tais direitos, impõe um novo ataque a qualquer professor com o mínimo de senso crítico. Trata-se de uma mudança que, conforme C. Baudelot e R. Establet, apenas acentuará o apartheid ou a segregação educacional em forma de escola dualista, que separa ricos e pobres e garante mão de obra barata para o mercado — mercado, e não mundo do trabalho.

            É esse mesmo mercado que financia os políticos de direita e extrema direita para que lutem pela redução ou extinção dos direitos trabalhistas, pelo ataque à previdência e pelo fim da estabilidade do servidor público concursado, de modo que se espera que cada aluno considere normal, “natural” ou aceitável trabalhar como motorista de Uber ou como youtuber, sem carteira assinada, sem o 13º, sem FGTS e sem férias remuneradas, condições que garantem o consumo e o aquecimento da economia de bens e serviços, e não a prosperidade do mercado financeiro, um tipo bem diferente de capitalismo. Os estudantes já estão se acostumando com o vocabulário que certamente será consagrado pelo novo ensino médio: já fazem parte do seu dia a dia as palavras investimento, seguidores, empreendedorismo e monetização, mas desconhecem o conceito de mais-valia, o que comprova que a doutrinação que existe é a do mercado.

            Se os alunos soubessem o que os espera, não estariam demonstrando interesse pelo novo ensino médio: estariam blasfemando de revolta em praça pública, onde agora passam menos tempo em virtude do ensino de tempo integral, que impede que os adolescentes ocupem o espaço público, o espaço das ruas. Também blasfemariam de revolta como resposta a qualquer professor que defendesse o novo ensino médio diante da turma, e, se fizessem isso, dois seriam os motivos: 1. os professores e os diretores (ou gestores) de escola que defendem o novo ensino médio sabem que atingirá apenas a escola pública, na qual não matriculam os próprios filhos, embora nela trabalhem, o que demonstra que querem para os outros o que não querem para si nem para sua família, cujos membros obviamente tentarão conseguir boas colocações no Enem e nos outros exames vestibulares mediante execução de bons planos de curso ou estudos elaborados em boas escolas particulares (nas quais, por mais contraditório que pareça, trabalham professores sem diploma e conformados com o baixo salário); 2. o próprio magistério deixou de ser uma categoria aristocrática e prestigiada para ser uma classe sindicalista, formada, em sua maioria, não por modelos de como agem e pensam verdadeiros intelectuais, mas sim por peões e peoas do ensino cuja formação acadêmica deixa a desejar. Com efeito: este fracassa na Engenharia e faz uma “complementação” para vender “aulas” de Matemática; aquele fracassa no Jornalismo e compra uma “complementação” parcelada em mensalidades para vender “aulas” de Português; um terceiro fracassa no ofício da advocacia, exercido por profissionais liberais (que, por definição, são autônomos), e decide vender aulinhas. Enquanto isso, os que cursaram as licenciaturas das disciplinas específicas têm de concorrer com gente que nunca cursou uma faculdade voltada para a formação de professores. Se é essa a realidade, por que não permitem que bacharéis deem aulas nos ensinos fundamental e médio sem a licenciatura e sem complementação? Como podem os conhecimentos pedagógicas valer mais do que os conhecimentos científicos de uma disciplina específica? A propósito: fala-se em “complementação”... complementação de quê? Se fracassaram em suas áreas profissionais de origem, não há nada para complementar ou aperfeiçoar: o mercado está escoando (ou evacuando, como um intestino) o que ele rejeita e está despejando na sala de aula a mão de obra excedente, a mesma que forma o exército de desempregados, tão do gosto dos neoliberais. Por mais detestável que seja admitir, o Sr. Milton Ribeiro, Ministro da Educação, não deixa de estar certo ao sugerir que vai para a sala de aula quem não conseguiu fazer outra coisa da vida.     

            Ora, se é ruim a formação de muitos professores, por que haveriam de se preocupar com a dos próprios alunos? Se apenas médicos podem formar futuros médicos, faz sentido que peões formem mais peões. Qualquer indivíduo de classe média que tenha fracassado no Direito ou no Jornalismo, com qualquer diploma de qualquer um dos dois bacharelados, pode fazer uma “complementação” pedagógica de meia tigela em alguma “universidade” de fundo de quintal e lecionar na educação básica e pública. Eu, por outro lado, não posso usar o diploma da licenciatura em Letras nem os documentos que comprovam que sou mestre em Estudos Literários para exercer o jornalismo. E o que dizer de pessoas que nunca, jamais, jamais mesmo, cursaram a faculdade de Ciências Sociais e mesmo assim dão “aulas” de Sociologia? Um bacharel em Ciências Sociais que queira a cátedra de professor de Sociologia do Ensino Médio não poderá fazer isso sem uma complementação, mas uma pessoa formada em Pedagogia cursa uma “complementação” e compete de “igual” para igual com alguém licenciado em Ciências Sociais na hora de disputar uma cadeira, que, obviamente, por uma questão de lógica, deveria ser ocupada por um bacharel em Ciências Sociais na falta de um licenciado. O Artigo 62 da Lei Darcy Ribeiro, porém, impede que o bacharel desprovido da tal complementação tenha direito ao cargo, mesmo que ele seja culto, habilidoso e conhecedor das ciências em que é versado sem que a pedagoga também seja.

            Essa distorção encontra raízes históricas profundas. “Na introdução de EAB [Educação e Atualidade Brasileira, livro de Paulo Freire]”, informa Sérgio César da Fonseca numa resenha, “Paulo Freire dialoga com as teses de Anísio Teixeira a respeito do ‘bacharelismo’ da escola brasileira”. Teixeira, um dos pioneiros do escolanovismo brasileiro, era de direita e nunca foi professor, mas quis imitar servilmente John Dewey, o ianque fundador do escolanovismo; Paulo Freire, por sua vez, era de esquerda, mas reforçou o otimismo pedagógico e o entusiasmo pela educação, componentes da sociologia do consenso, ideologia dos liberais de direita que até hoje estende as garras e faz que a escola pública siga a cartilha do Banco Mundial. Tomara que Paulo Freire não tenha condenado a presença de bacharéis nos quadros do magistério da educação básica, porque isso seria cuspir para o alto, uma vez que ele mesmo nem formado em Pedagogia era; também não era licenciado numa disciplina específica: era bacharel em Direito. Embora nem sequer fosse licenciado nem bacharel em Letras, dava aulas de Português no Colégio Oswaldo Cruz, onde foi professor daquelas que se tornariam suas esposas. Infere-se que os dois intelectuais eram contra o que chamavam de bacharelismo da educação. O resultado desse despautério está no seguinte fato: “Afirma-se que o professor não precisa saber tanto da matéria em si como das diferentes maneiras lúdicas de apresentar as tarefas. Em outras palavras, o futuro professor deve estudar mais pedagogia e menos as disciplinas científicas” (ENKVIST, 2019, p. 34). Em nome de uma formação “científica”, excluem-se os bacharéis da educação básica, como se o seu saber-fazer fosse insuficiente para ensinar, ao mesmo tempo que se desvalorizam as próprias licenciaturas. Ora, o bacharel, por definição, é formado por uma universidade, e portanto segue ele o princípio de que sua ciência não pode ser separada da pesquisa nem do ensino: o ensino, a pesquisa e a extensão são traços da universidade. Todavia, qualquer aventureiro, como um tecnólogo, cursa uma “complementação” em seis meses e corre o “risco” de se promover nos quadros dos magistérios públicos, em que diretores e seus superiores recebem verdadeiras fortunas, mesmo que um professor bem formado e culto ganhe menos e seja perseguido por quem sabe menos do que ele. É essa uma das consequências do antibacharelismo, que, aliás, não contém substância nenhuma: Se um bacharel em Letras pode dar aulas num curso de licenciatura em Letras na medida em que, aos olhos da lei, nem todos os lentes (professores universitários) precisam de mestrado ou doutorado, então pode formar futuros professores da educação básica, e no entanto não pode lecionar na própria educação básica. É como se um médico tivesse de formar futuros médicos sem exercer a medicina. Por que os departamentos das universidades públicas aceitam uma incoerência tão grosseira? São prejudicados os bons alunos dos ensinos fundamental e médio, que ficam desanimados por se sentirem desvalorizados: notam que são ruins os professores. Só os governos e os estabelecimentos particulares de ensino superior são beneficiados pelas “complementações”, porquanto estes lucrem com as matrículas e garantam mão de obra barata para aqueles. É muito clara a divisão social do trabalho: se é massificado o ensino, o magistério, que deveria ser um esteio do pensamento crítico, é reduzido a um custeio muito baixo.

            Não era o bacharelismo a causa da formação de maus professores (conhecidos como sinecuras). Hoje, porém, é o pedagogismo que faz isso. Trata-se da supervalorização de conhecimentos supostamente científicos da Pedagogia, que, em nome de uma formação “científica”, “fundamentou” aberrações normativas e legislativas, tais como a Resolução CNE/CEB nº 02/97, a Resolução nº 2, de 1º de julho de 2015, o Decreto nº 8.752, de 9 de maio de 2016, e a Resolução CNE/CP nº 1, de 9 de agosto de 2017. Na prática, qualquer mentecapto metido a aventureiro pode conseguir um combo promocional (para usar a expressão de um anúncio de “complementação” pedagógica) e comprar um diploma mediante pagamento de mensalidades. Isso tudo é aviltante, ultrajante, obsceno: é uma falta de respeito para com os bacharelados e para com as licenciaturas; todavia tudo isso conta com o apoio do Conselho Nacional de Educação (o CNE) — controlado que é pelas grandes corporações privadas de escolas particulares — e com a anuência de políticos. A política, aliás, mesmo que tenha relação inevitável com o ensino público, segue critérios mercadológicos, uma vez que a classe dirigente está nas mãos da classe dominante. Não é por acaso que o novo ensino médio começou a ser implementado pela Medida Provisória 746, de 2016, para depois ser promulgada a Lei 13.415, a infame lei do novo ensino médio, de 2017. Quando vão aplicar critérios técnico-científicos? Pelo visto, isso só vai acontecer num futuro muito, muito distante, um futuro em que não exista a Fundação Lemann.

            No caso específico do Espírito Santo, sabe-se que “professores” usaram diplomas falsos: Vejamos:

 

A corregedoria da Secretaria Estadual de Educação (Sedu) concluiu que Wemerson Silva Nogueira, de 27 anos, que foi eleito educador do ano em 2016 e nomeado embaixador da educação no Brasil pelo MEC em 2017, usou diplomas falsos para conseguir um cargo na rede pública estadual de ensino. A investigação da secretaria aponta que ele nem mesmo se matriculou na instituição que alega ter estudado.

 

            A passagem acima foi extraída de notícia disponível no sítio do G1, publicada em 24 de agosto de 2018. Mas há mais:

 

Quatro professores foram presos na manhã desta quarta-feira (25), na região Norte do Estado, acusados de participar de um esquema de uso de diplomas universitários falsos para conseguir mais pontos em concursos públicos. As prisões fazem parte da primeira fase da Operação Mestre Oculto, do Ministério Público do Espírito Santo (MPES). Duas pessoas foram detidas em Rio Bananal e outras duas em Linhares.

 

                O excerto acima foi tirado de notícia publicada pelo sítio de A Gazeta, em 25 de julho de 2018. O que as “complementações”, infames que são, e os dois casos noticiados evidenciam é a falta de respeito para com os licenciados e os bacharéis, que muito se empenharam em suas formações inicial e continuada, nas quais exerceram a honestidade intelectual e a honestidade pura e simples.

            É estarrecedor o caso particular do Espírito Santo, reconhecidamente atrasado e provinciano. Não é por acaso que prevalecem os contratos temporários. Professores em regime de Designação Temporária (D. T.) são submissos às diretrizes neoliberais da educação. Não são intelectuais orgânicos (para usar a expressão de Gramsci), ou seja: não são formadores de opinião: são peões e peoas do ensino. Com efeito: em sua dissertação de mestrado, Margaret Jann (2016, p. 6), que examinou as relações de trabalho temporário na rede municipal de Cariacica, ES, revela isto:

 

A pesquisa evidenciou que os professores contratados passam por experiências de competição entre os pares para acessar uma vaga de trabalho; há uma fragilidade na acolhida destes professores nas unidades educativas e tensões vão se estabelecendo ao final do contrato, o que traz um sentimento de impotência diante das lógicas de contratação temporária que vão se naturalizando no trabalho docente.

 

            A pesquisadora Margaret Jann tem todos os panos para as mangas: faltam concursos públicos para o provimento de cargos efetivos dos magistérios públicos, de modo que o contrato de D. T., que deveria ser a exceção, virou regra (cf. JANN, 2016, p. 92). Não foi por acaso que

 

O Plano Municipal de Educação de Cariacica — Lei nº 5.465, de 22 de setembro de 2015 — traçou em sua Meta 18 estratégias para estruturar a rede pública de educação básica de modo a buscar, no decorrer de 2 (dois) anos de vigência do PNE, [que] 90%, no mínimo, dos respectivos profissionais do magistério sejam ocupantes de cargos de provimento efetivo (JANN, 2016, p. 85-6).

 

            Outro acinte ao magistério da educação básica é a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação (doravante L. D. B.), a Lei 9.394, de 1996. É desesperador notar que a atual L. D. B. equivale àquela que foi idealizada por Darcy Ribeiro (cultuado e santificado por pessoas desinformadas ou intelectualmente desonestas), e não ao texto que propusera o deputado Otávio Elísio (PMDB/MG). Não vingou o projeto de lei 1.258, de 1988, para o qual o relator escolhido fora o deputado Jorge Hage (PDT/BA), que “ouviu as entidades da sociedade civil e outros parlamentares e apresentou, em agosto de 1989, o primeiro substitutivo do Projeto Otávio Elísio, que contou com o apoio do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública” (MARTINS, 2008, p. 93). Infelizmente,

 

a vitória de Collor priorizou as propostas educacionais do empresariado industrial. No início de 1990, Jorge Hage apresentou o segundo substitutivo, mas os defensores dos interesses privados criaram uma série de mecanismos para que esse substitutivo não caminhasse na Câmara dos Deputados. Collor reuniu aliados para barrar o projeto do deputado Jorge Hage; assim, foram criados vários empecilhos que impediram a votação do projeto na Câmara dos Deputados. Em 1992, Darcy Ribeiro apresentou outro projeto de LDBEN, que também foi assinado por Maurício Correa (PDT/RJ) e Marco Maciel (PFL/PE). Logo em seguida, o projeto do deputado Jorge Hage foi retirado do Congresso, o projeto de Darcy Ribeiro foi votado e transformou-se na nova LDBEN, Lei 9.394, promulgada em 20 de dezembro de 1996. (MARTINS, 2008, p. 93)

 

            Até hoje a L. D. B. é conhecida como Lei Darcy Ribeiro. Reflete as contradições da educação pública brasileira e define a educação como dever do Estado e da família. Esta, é claro, é religiosa e tacanha, e por isso mesmo não respeita a liberdade de cátedra do professor, que, aos olhos dela, é um empregado, ao passo que o aluno é um cliente, que, como qualquer cliente, tem sempre razão. Para o azar dos professores progressistas, “as esperanças dos educadores de ter uma educação fundamentada, discutida e organizada sob os princípios da dimensão crítico-social foi abortada pela Lei Darcy, que não representa a vontade e o sonho dos educadores brasileiros” (THOMAZ; CARINO, 2008, p. 149).

            A falta de concursos para o provimento de cargos efetivos, a expansão de escolas particulares, a influência da Fundação Lemann, a compra de tecnologias (que faz que o dinheiro público vá para o setor privado), a obsessão pela “inclusão” de mais e mais alunos na escola pública, em que é praticamente proibido estudar com seriedade — tudo isso está ligado de tal forma, que é impossível não vincular o novo ensino médio à formação anti-intelectual e anticientífica dos professores da educação básica e pública. Isso tudo, é claro, segue o rastro contínuo do otimismo pedagógico, nunca combatido pelos sindicatos dos professores (que discutem causas minoritárias e procuram ganhar dinheiro em migalhas, como galinhas malfadadas que ciscam no chão à procura dos grãos de milho e depois vão para a panela, mas nunca discutem a educação de modo científico). É óbvio que o discurso “científico” da inclusão de matérias pedagógicas na formação inicial dos professores é um artifício pseudocientífico que atinge dois objetivos: o de pauperizar a formação docente e o de subproletarizar o magistério. Os bacharéis jamais aceitariam salários tão infames. Contudo, é possível reagir de modo organizado e institucional, sem o espontaneísmo dos ativismos (que são estúpidos), a esse estado de coisas. O primeiro passo é a desobediência civil: enquanto não forem revogados os dispositivos que permitem as formações de má qualidade, jamais o magistério poderá se queixar do novo ensino médio, então é preciso desacatar os textos normativos que permitem a existência da infâmia da complementação pedagógica tanto quanto é necessário desacatar a lei do novo ensino médio. O segundo passo é uma revolução que gere a destituição imediata dos integrantes do CNE, que deverá ser substituído por uma instituição que realmente valorize os magistérios públicos. O terceiro passo é exigir que os pesquisadores dos departamentos de Educação das universidades públicas deixem de lado o proselitismo religiosamente sectarista que fazem com o nome de Paulo Freire, a vaca sagrada da Pedagogia, porque nem formado ou licenciado para dar aulas era. (As universidades mundo afora que o louvam, como se o próprio sol irradiasse do cérebro do pernambucano, são aparelhos ideológicos de Estado, o que quer dizer que são aparelhos ideológicos de mercado. A sacralização do nome de Paulo Freire é tão danosa quanto a do nome de Darcy Ribeiro, que nem professor da educação básica era. A melhor maneira de respeitar e honrar a memória de Paulo Freire é criticar a obra dele, de modo que os estudiosos, com isenção de ânimo, comemorem os acertos do pernambucano e lhe corrijam os erros.) Assim, poderão se deter no que realmente importa: a crítica aos pressupostos teóricos da pedagogia moderna, que reforça, como um capitão do mato, as diretrizes do Banco Mundial. Como os departamentos, que estão comprometidos com artiguelhos acadêmicos de baixíssima qualidade e com a lógica neoliberal e operacional do Lattes, farão isso, coisa é que eu não sei. Por fim, é imprescindível que cada Estado-Nação do planeta esteja disposto declarar ilegais todas as ideologias do neoliberalismo. Em outras palavras: todos os governos devem colocar na ilegalidade o neoliberalismo, que deverá se tornar crime contra a humanidade, de modo que ficará no balaio do nazismo, do fascismo, do franquismo, do salazarismo e do stalinismo. Para o azar da sociedade brasileira, muitos alunos chegarão ao ensino médio e dele sairão sem que saibam os totalitarismos. Suas referências são os youtubers, e por isso mesmo existem alunos que sustentam que a Terra não é esférica. É estarrecedor e revoltante, mas é natural, por assim dizer: muitos dos seus professores votaram em Bolsonaro, e alguns diminuíram a importância da vacina contra o novo coronavírus. 

 

Referências:

 

ENKVIST, Inger. Educação: guia para perplexos. Tradução de Felipe Denardi. 1. ed. Campinas, SP: Kírion, 2019.

 

FONSECA, Sérgio César da. Educação e Atualidade Brasileira: Paulo Freire e a aproximação com as ideias de Anísio Teixeira [resenha].

 

FREIRE, Ana Maria Araújo. Paulo Freire: uma história de vida. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.

 

FLORENTINO, Adilson; MARTINS, Angela M. Souza; CARINO, Jonaedson; SÁ, Marcia Souto Maior Mourão; SILVA, Marco; THOMAZ, Sueli Barbosa; WILKE, Valéria. Fundamentos da Educação I. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2008.

 

Habilitação para lecionar sociologia no Ensino Médio. In: Sítio da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (ABECS). 17 mar. 2018. Disponível em: < https://abecs.com.br/lecionar-sociologia-no-em/>. Acesso em: 19 jun. 2021.

 

JANN, Margaret. O acesso e permanência dos professores contratados nas instituições educativas: uma análise de suas experiências, 130 f. Dissertação. (Mestrado em Educação) — Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Educação, ES, 2016.

 

MARTINS, Angela M. Souza; SILVEIRA, Claudio; ARAUJO, Helena; CARINO,

Jonaedson; THOMAZ, Sueli Barbosa. Fundamentos da Educação II (v.1). 2. ed. Rio de

Janeiro: Fundação Cecierj, 2008.

 

Professor do ES eleito “Educador do Ano” no país usou diploma falso, diz secretaria. In: G1. 24 ago. 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2018/08/24/secretaria-conclui-que-professor-usou-diploma-falso-para-atuar-na-rede-publica-de-ensino-do-es.ghtml>. Acesso em: 19 jun. 2021.

                                      

Quatro professores são presos em esquema de diplomas falsos no ES. In: A Gazeta. 25 jul. 2018. Disponível em: <https://www.agazeta.com.br/es/norte/quatro-professores-sao-presos-em-esquema-de-diplomas-falsos-no-es-0718>. Acesso em: 19 jun. 2021.



[1] Licenciado em Letras (Português e Literaturas) pela UFF, mestre em Estudos Literários pela UERJ e professor efetivo de duas redes públicas. Currículo Lattes: <http://lattes.cnpq.br/0328708771235302>.