Semestre passado, voltando de van para
Teresópolis, ouvi um sujeito dizer que prefere mil vezes votar em Bolsonaro a
votar em Jean Wyllys. Defendeu a
preferência com a suposta falta de conhecimento sobre economia demonstrada por
Wyllys numa entrevista, ignorância logo associada ao fato de ele supostamente
saber apenas defender a causa gay.
Deduz-se que o eleitor (um típico teresopolitano de classe média que
cumpre os deveres de "bom cristão") alimenta as seguintes convicções:
1ª: Bolsonaro entende de economia;
2ª:
o próprio eleitor que estava na van dá muita importância à economia (entendendo
bastante do assunto ou não);
3ª: não são importantes a causa gay e as
causas das outras minorias.
É óbvio que são falsas as três
afirmativas. Por isso dá vergonha a
estupidez do teresopolitano médio; e é por isso também que os mais de quatro
mil votos que Bolsonaro recebeu desta cidade deveriam causar profunda vergonha
e muita indignação, sentimentos que, assim como os protestos contra Cunha e
Temer que poderiam ser feitos pela classe média teresopolitana que
"detesta" a corrupção, nunca foram externados com ênfase idêntica
àquela que se dá aos motivos por que se condena Wyllys nas conversas mantidas
em rodas de amigos, em bares ou calçadas.
Parece que os cidadãos e os "intelectuais" com alguma fama, de
um modo geral, não percebem o quão constrangedor é saber que Teresópolis rendeu
tantos votos para um fascista.
Quando o assunto é Bolsonaro, dizem:
"Ele, Bolsonaro, diz X, MAS...".
É sempre assim: usam a conjunção adversativa, e o efeito é o de
concessão, a qual, na verdade, é indulgência.
Para a estupidez de Bolsonaro fazem concessões, indulgências, mas para a
luta de Jean Wyllys não há perdão.
Uma vez que são muito burros os
eleitores teresopolitanos de Bolsonaro (e os não teresopolitanos também), não
se dão conta de que suas falas em defesa dele sempre denunciam estupidez e
ignorância. São provas materiais de sua
filiação à ideologia fascista dele.
Sendo assim, faço duas sugestões: 1ª: deixar a burrice de lado para
enxergar que estão do lado fascista da política; 2ª: jogar limpo: racionalizar
a preferência por Bolsonaro com a importância da economia ou com qualquer erro
de seus opositores não é um disfarce convincente para justificar a preferência
pelo fascismo. É mais fácil assumir que
Bolsonaro representa os valores ideológicos com os quais se identifica o
eleitor dele. Isso, é claro, não é fácil
nem bonito: se fosse, o eleitor cuja fala escutei na van não teria sentido a
necessidade inconsciente de racionalizar sua preferência.
[Márcio
Alessandro de Oliveira. Teresópolis,
4/7/2016.]
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